por Haroldo Gomes
Há
cerca de um ano e meio, quando a Prefeitura de Parnamirim, através de sua
Fundação de Cultura, chegou ao Beco do Picado, ele estava sendo chamado, por
muitas pessoas, de “Beco do Mijo”. Muitos diziam que estávamos perdendo tempo.
Começamos com pequenas ações e uma referência: fugir de uma política de “eventos”
temporários ou de uma política de valorização de pessoas e lugares mortos para
uma política cultural de criação de espaços. Mapeamos alguns na cidade: um
deles, o Beco do Picado, por sua referência histórica e cultural.
Com
base no historiador francês Michel de Certeau, que diferencia espaço de lugar, considerando
que “o espaço é um lugar praticado”. Por exemplo, um beco urbanizado pela
Prefeitura é transformado em espaço pelas pessoas que o frequentam, que o
praticam. O espaço é vivo. É interessante encontrar as pessoas na sexta-feira e
ouvi-las dizer: “e hoje, não tem beco, não”?
A
cidade é feita de espaços e a cultura vive da criação destes espaços.
Heterotopias, navios em alto mar. Vivos, eles se tornam lugares de encontro.
Deixam de ser daquele território fixo (da cidade, do estado...), deixam inclusive
de ser um lugar estático para se tornar um espaço imaginário, virtual.
Existindo o espaço, flui a produção cultural, que não precisa ser apenas “local”.
A noção de “local” reduz o espaço, estrangula a possibilidade dele ser
cosmopolita, de dialogar com o mundo. No
formato atual, o Beco do Picado não foi criado para ser uma ilha, mas para ser
um ponto de encontro e de acolhida. Por consequência, um espaço que se abre
para todos os artistas, de todas as linhas, vertentes e matizes como, também, de
todos os lugares. Mas, fundamentalmente, um espaço a ser praticado e
reconhecido pelos bons encontros, pela alegria e pela capacidade de nos fazer a
todas, pessoas melhores.